A polémica dos beijinhos aos avós

Aquando do programa "Prós e Contras" desta semana, no qual um professor universitário defensor do poliamor (não sei que diferença isso faz honestamente, mas nas redes sociais várias pessoas tendem em insistir) falou que obrigar as crianças a dar um beijinho aos avós era um ato de violência, violência física. E sinceramente, um pouco como sobre tudo o que vou vendo nas polémicas recentes, acho que anda tudo a exagerar. Um over-react geral.

Antes de mais, esclarecer uma coisa: qualquer ato de obrigação de alguém a fazer algo contra a sua vontade é um ato de violência. Quanto a isso não há dúvidas.

Acho que este é mais um daqueles casos em que a imprensa viu uma ponta por onde pegar e não perdoou. Nada contra, é assim que as coisas funcionam. Mas o que o homem queria expor foi conseguido. Não da melhor maneira, mas foi. Longe de ser a melhor maneira. Contudo pegou num caso pelo qual todos nós já passámos.

Venha quem vier, quando somos miúdos não sabemos bem ainda o que queremos ou deixamos de querer. E quantos de nós não foram obrigados a dar um beijinho à avó, ou à bisavó, ou a um familiar afastado, daqueles que vemos 10 vezes na vida toda? Não nos sentimos violentados da mesma maneira que uma violação ou assédio. Mas se pensarmos bem, trata-se de algo que fazemos apenas porque os nossos pais (ou outra pessoa de autoridade) nos pedem, não porque nós tivemos iniciativa. Se fosse de nossa iniciativa nem servia para o exemplo do comentador, na medida em que ele falou especificamente do caso de obrigação a um beijinho.

E lá está, perante a autoridade o nosso comportamento normal é obedecer e não questionar se queremos se não, se é correto ou não, se estamos a ser obrigados a fazer isso ou não, porque nos estão a mandar, porque é alguém superior, e se é superior então devo fazer, porque é a autoridade a falar e como tal, obedecer deve ser o comportamento correto.

Irrita-me muito os comentários cheios de ódio que têm surgido nas redes sociais. Pensem pela vossa cabeça. Eu gosto muito da minha avó e dou-lhe um, dois, três beijinhos com muito gosto, mas em miúdo de certeza que tive uma altura em que o fazia apenas porque me pediam, o mais certo era ter os meus primos como ponto alto das reuniões de familia, o resto era secundário. Senti-me violentado? Duvido muito, talvez apenas numa birra ou outra, mas o que ele disse é verdade, é uma forma de violência, mas não comparem o peso deste exemplo com o tema do debate. Foi uma escolha muito infeliz dele. Talvez a tenha escolhido por ser um caso pelo qual todos nós já devemos ter passado antes, talvez tenha uma infância trágica, talvez a relação com os avós não fosse a melhor, não interessa. Falou e, lá no fundo, tinha a sua razão. Acho que é isso que deve ficar retido disto tudo.

"O que eu dava para  poder voltar a beijar os meus avós! É para este caminho que o nosso país caminha. Havias de ser agredido para veres o que é violência", etc, etc  li eu no facebook. E indigna-me ver gente a puxar pelo valor sentimental assim. Pelo amor de Deus, que dramatismos...

Amem os vossos avós, amem toda a família, sobretudo enquanto vivos. Mas houve uma altura em crianças em que não era assim.

Continuem a vida e deixem este assunto morrer.

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