A máquina cidadã

Criei este blog para colecionar e organizar os meus próprios devaneios, as ideias que me apetecem escrever e expor uma e outra vez como discutir os ponto essenciais do que nos faz ser humanos.
Calha hoje surgir no meu feed no facebook uma  noticia que levanta questões desse mesmo género.

Na Arábia Saudita um robô teve o previlégio de ser premiado com cidadania. Logo num país onde as mulheres andam de corpo e cara tapada, que regras tradicionais irão expor este robô/pessoa? Aparentemente já tem mais privilégios do que as mulheres sauditas.


Acredito que vivemos num mundo com pouco interesse quando certas notícias vão aparecendo, como a alemanha criar um 3º sexo (ou a opção de apenas mais tarde decidir, não me lembro bem), pessoas que casam com comida ou objetos do dia a dia, casais que adoptam vegetais (sim, aconteceu). O que se passou com a vontade de existir e ser comparativamente à vontade de estar corretamente catalogado e caracterizado? O que faz uma pessoa querer-se unir com um objeto/boneca/eletrodoméstico? Vivemos num mundo onde a necessidade de ser diferente na multidão sobrepõe-se ao bom senso? Onde a capacidade social se vai atrofiando com a cada vez maior sedentariedade e inaptidão de comunicar presencialmente como não havia opção há ainda não muitos anos atrás?

Será resultado das tragédias e crises que nos assolam como o aquecimento global, o terrorismo, a fome, o desemprego ou não ter bateria no telemóvel que nos fazem olhar para o caricato e para o incrédulo de forma a fugir à realidade?

Voltando ao tema inicial. Robô. Cidadania. Arábia Saudita.

É um tema que não deixará de estar nas bocas do mundo atualmente e cada vez mais no futuro. A tecnologia avança e avançará cada vez mais com o correr do tempo, os trabalhos de exclusiva mão de obra humana tenderão a desaparecer, as máquinas ganharão cada vez maiores capacidades (não gosto de usar o termo inteligência), a eficiência e produtividade serão sempre indíces a melhorar e as pessoas serão cada vez menos necessárias (melhor, necessárias em tão grande número).

Não será assim tão descabido imaginar ir a uma repartição de finanças (por exemplo) no futuro e termos máquinas a atender-nos. E claro, em principio de forma mais eficiente. Já o temos nos supermercados, com as máquinas para cestos que reduzem logo 4 trabalhadores para 1, o que fica no centro a ajudar na presença de possíveis problemas. Sim, é claro que não são mesmo 4 que se perdem, um funcionário na caixa tem muito mais prática que nós, simples clientes, mas sejam 2 ou 3, as máquinas entram em ação e assim é a tendência. Não me surpreende nada que no futuro a leitura do código de barras seja substituída por um método muito mais rápido. A inclusão de chips nos produtos que sejam lidos todos de uma vez ao passar o cesto/carros por um leitor/sensor.

Entrando no tema mais Asimoviano (perdoem-me): robôs.
Não ponho em causa a sua utilidade. Mas a sua essência. Um robô, na sua base, será sempre uma estrutura humanoide (ou não) com um controlo central e a sua "espinha dorsal"  serão as linhas de código e memórias que carregam consigo. Terá a capacidade de sentir estímulos sensoriais, até melhor do que nós. A mim nunca me ouvirão a dizer que estão 20 graus centígrados porque o senti no ar, ou que o vento está a soprar com uma velocidade de 2m/s porque assim o senti nos meus avançados sensores (chamados orelhas). Certo.

Mas a capacidade de sentir. A empatia. A função hormonal que nos torna raivosos ou amorosos ou amedrontados. Os nossos erros e defeitos. O sentimento de culpa. O nervosismo de mentir ou de falar com aquela pessoa que nos é especial. Pode ser tudo uma coleção de coisas que nos torna menos eficientes (porra, nós precisamos de dormir e um robô não), mas coisas que nos tornam efetivamente vivos. Humanos.

Porquê dar cidadania a um robô?
Campanha publicitária. 

Não vejo outra razão. Que ganha a Sophia com isso?

Sorri? Sabe porque ri. Quando deve fazê-lo. Nós, imperfeitos humanos, fazemos isso de forma involuntária e por vezes sem saber. É automático. Mas de outra maneira.

Até pode pestanejar (não sei se o faz, mas que tem olhos tem), mas porque o faria/fará?

Até podem no futuro parecer perfeitos imperfeitos humanos, e no futuro haver conversas como:

"Hey, olha, és meu amigo e confio mesmo em ti, tenho um segredo para te contar, mas não podes contar a ninguém"
"O que é? És... gay?"
"Não... sou um robô."

Façam robôs. Façam-nos e cada vez melhores.
Mas não os façam humanos. Não tentem fazer isso. Seremos sempre carne e hormonas que se questionam. Os robôs poderão ser melhores que nós em tudo (não fazia muito sentido fazer máquinas se não fossem para ter alguma utilidade), mas ser humano será um previlégio (ou defeito) que será exclusivamente nosso.


Para acabar:

De salientar que o filme "I, Robot" foi baseado num livro de Asimov

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