Alguns pontos sobre a minha experiência no Ensino Superior

A praxe tem mais de bom do que de mau

Nunca fui praxista, mas fui um razoável caloiro. Não tinha espírito para a praxe, o à vontade para alinhar nas brincadeiras mais parvas ou mais sérias, o que levou a que tenha ganho um nome de praxe que deve ter durado umas horas porque nunca mais alguém para além de mim se lembrou dele. Mas estava lá frequentemente, sobretudo na fase inicial. Depois com o segundo semestre vi que realmente não era a minha cena, não morria de amores pela praxe e tinha mais que fazer. Nunca mais fui visto numa praxe nos 4 anos e meio seguintes. Contudo, sempre que falo com um caloiro digo a mesma coisa: "se calhar ainda vais gostar da praxe menos do que eu, mas vai. Pelo menos uma vez! É lá que vais conhecer mais rapidamente os do teu curso e vais conviver de forma mais descomplexada, mais do que nas aulas. Vais chegar ao ponto de conhecer pessoas durante muito tempo apenas pelo nome de praxe. Se não fosse pelo facebook eu hoje não sabia o verdadeiro nome de 10/15 gajos do meu curso. Acredita. Vai. Depois sais quando quiseres, que os doutores podem ser muito, muito chatos, mas ninguém te vai obrigar a ir. Nem a fazer nada que não queiras. Mas também tenho de te admitir, as praxes que mais me diverti foram aquelas em que o pessoal perdeu a vergonha e alinhou na brincadeira."

As praxes a que fui tiveram um pouco de tudo. Tivemos praxes psicológicas, mais físicas, mais divertidas e cómicas e até mesmo (e muitas vezes) dias de praxe que faziam parecer que estávamos na tropa.

O pior da praxe acho que acaba por ser as regras parvas existentes (sobretudo para os de 2º e 3º ano, engane-se quem pensa que ser caloiro é difícil) e tudo (!) o que aparece na comunicação social. Os acontecimentos do muro de Braga e da praia à noite calharam no mesmo ano e mancharam imenso a imagem da praxe. Dois acontecimentos com finais imprevistos e inesperados,

Existe um filtro, um padrão nas pessoas à tua volta

É assim, isto que quero falar, sem querer ofender ninguém nem nenhum curso ou faculdade, verifica-se cada vez mais quanto mais específico for o curso ou maior for a "média de entrada" (meto entre aspas pois contínuo a ver pessoas a tratar este termo tão, mas tão mal, não sabendo o que quer ele dizer, que se trata simplesmente da média de entrada do último aluno colocado nesse ano, um valor de referência entre cursos e para os próximos candidatos).

Quando entrares no teu curso vais aperceber-te talvez que todas as pessoas que entraram contigo partilham algumas formas de pensamento, metodologias e preferências. Por exemplo, é expectável que num curso de biologia se encontre muita gente com grande gosto pela natureza, pela ciência e com aptidão para decorar. Já num curso de engenharia irá certamente encontrar-se pessoas com maior gosto pela física, matemática e resolução de problemas com uso da lógica.

Não será por acaso que, por exemplo, existem tantos rapazes em cursos como engenharia civil, amantes de jogos de computador e consolas em engenharia informática,... bem, gostaria de ter mais exemplos, mas estes são os que me são mais próximos e gritantes.

No secundário as pessoas que estavam à tua volta deviam isso à distância ser mais curta (ou por conveniência) para a tua escola do que outra. Sobretudo.

Na faculdade entram outros fatores em jogo. São pessoas a decidir aquilo que querem fazer no futuro e o que gostariam de estudar. E isso forma um padrão. Por vezes pequeno, mas um padrão existente.

Conheces tipos de pessoas que não vais gostar e que vais apanhar muitas vezes na vida...

O meu Secundário foi numa cidade pequena, havia uma pequena rivalidade entre os melhores alunos, mas uma coisa mínima. Nessa altura somos miúdos, queremos é chegar aos 18 para começar a beber bebidas alcoólicas (legalmente bah), tirar a carta e, pronto, todos as coisas que um recém-adulto que ter direito.

Mas na faculdade encontras pessoas em processo de se tornarem adultos e profissionais do amanhã. Vais conhecer um nível de competitividade diferente e em certos casos pouco saudável. Pessoas que só vão pensar em tirar a melhor nota, orgulhar-se de ter a melhor média e amuar ao conhecer alguém que o supere, que vão a melhoria com boa nota só para dar aquele ar de que acha que faz melhor ou simplesmente porque não foi melhor que outro. Tive um caso de um rapaz que estava a falar de curso, mais especificamente de como tinha boas notas apesar de ir a recurso por vezes, coisa que no meu curso não é raro. Uma rapariga vira-se e diz "já foram a algum recurso?" e ele "Lol, quem nunca foi a recurso? (risos)" e ela "eu nunca fui", e ele amuou e não falou muito mais nessa noite.

Sem esquecer um dos outros papeis da praxe para além da integração: a criação de um sentido de autoridade e hierarquia. Um dia na praxe disseram-nos "caloirada, isto aqui é um exemplo para o vosso futuro profissional. Quando começarem a trabalhar ides ser o fim da tabela, ides ser os menos importantes, os juniores, os caloiros de lá, assim como o são aqui." ou mesmo "isto aqui é como nas aulas, vocês unam-se contra o vosso inimigo, aqui somos nós, nas aulas serão os profs".

Bem, talvez a parte mais chata. Mas cada dia que passa mais acho que é verdade.

...mas também amizades como nunca tiveste

Aqui volta a questão do filtro da faculdade. Vais encontrar gente que partilha muitas características e gostos contigo. O que levará a amizades que se desenvolverão muito rapidamente, não só pela partilha de gostos como também pelo ambiente da faculdade, sobretudo o ambiente entre caloiros em que ninguém se conhece e estão todos mais disponíveis uns para com os outros. 

Por acaso foi uma coisa que senti falta logo no meu segundo ano. Quando se é caloiro e não se conhece ninguém existe um espírito diferente, todos são um pouco acanhados inicialmente (uns mais do que os outros, muito mais) mas depois vão-se dando a conhecer e todos estão dispostos a ouvir as histórias de cada um. Até na organização para ir a festas e jantares, basta serem caloiros do mesmo curso ou faculdade que se cria um há vontade como se conhecessem há anos. Basta reconhecerem a cara, seja das aulas ou praxe, e existe um sentimento de união. Se tu que estás a ler és caloiro ou estás prestes a ser, acredita que este ponto não falhará de certeza absoluta. Todos os anos entram milhares de alunos para o ensino superior, vais conviver com muita gente nova para ti, vais criar amizades novas e de dimensão diferente das que tens actualmente. Sobretudo se fores estudar para longe de casa, o que é propício a um maior convívio com os teus novos amigos, convívio muito frequente que vos vai levar a passar por muitas coisas, sejam as queimas, as épocas de exames ou simplesmente os momentos mais íntimos de cada um (fim de namoro, problemas familiares ou pessoais, etc).


Entrada na faculdade é sinónimo de voltar a estar solteiro

Disseram-me no primeiro dia de praxe que tive "quem entra na faculdade já a namorar não vai aguentar com esse namoro, possivelmente nem durará até à receção". A verdade é que confirmou-se, do meu grupo mais intimo de amigos todos os que namoravam acabaram por ficar solteiros ou arranjar novo namoro. Passado 1 mês, passado 4 meses, passado 1 ano,... acabou sempre.

Vais estar bêbedo pelo menos uma vez

Mesmo que nunca o tenhas estado antes, acredita que vai acabar por acontecer. Os jantares e convívios académicos são muito propícios a um à vontade e disposição para beberes, sobretudo se estiveres num grupo de amigos que beba.

Podes até nunca ter tocado numa gota de álcool na vida, eventualmente vais ficar, no mínimo, tocado.

Vivi com um rapaz que nunca, mas nunca mesmo, tinha tocado em bebidas alcoólicas. No 4º e 5º ano começou a beber (festas lá em casa, na faculdade, queima, etc) e, não se tendo tornado num bebedor de registo (nem de perto nem de longe), ficou pelo menos 2 vezes, que eu tenha visto, num estado de registo cómico futuro. 

NOTA: escolhe bem o momento, ou sê consciente do que vais fazer e com quem estás. Entre amigos e com alguma moderação (tipo conseguirem todos voltar a casa ou ao sítio onde vão dormir) está à vontade, agora se estiveres sem garantias de nada não bebas à maluca. Já vi muita gente a ficar perdida à noite porque os amigos o deixaram ou simplesmente foi sozinho e bebeu demais.

NOTA2: assegura-te de que estás acompanhado e com a tua segurança garantida para a noite, mas não estragues a noite a ninguém.
Já fui obrigado a sair de uma festa por causa de um amigo meu ter-se metido no meio de confusão e ter sido expulso.
Uma altura acordaram-me às 4h na véspera de uma avaliação para ir ao queimódromo buscar uma amiga minha que bebeu demais e acabou no INEM.
Fui obrigado a estar 2h a ajudar um amigo meu que bebeu demais e ficou mal disposto (chamar o gregório e assim, né?) e nos obrigou a sair mais cedo da festa.
Temos de ser um para os outros, mas não abuses da boa vontade de ninguém. Mesmo que haja um condutor de serviço. Sobretudo com ele. Arriscas a ser tu o próximo ou a ir com nova companhia para a próxima.

Bem, assim de repente não tenho muitos pontos a acrescentar, e se os tiver lá os acrescentarei no futuro.

Desejo-te uma boa vida académica e que a aproveites bem, pois não há anos como esses que aí vêm.


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