A minha experiência no Paredes de Coura

Muito se tem falado do Paredes de Coura de ano para ano.
A primeira vez que ouvi falar nesse festival foi sempre com um estigma de "festival antigo" ou com tradição, soa melhor. Alternativo também. E não fosse ele ficar situado numa terra que eu não fazia ideia de onde ficava.



Tenho inclusive uma tia minha que, quando nova, ia a todos os festivais de verão que valiam a pena na altura. Super Bock Super Rock, Paredes de Coura e Vilar de Mouros. Um ano foi ao Paredes de Coura. Não se lembra de nenhuma banda conhecida que tenha visto, mas é bem provável que se hoje ler os nomes que foram, irá reconhecer alguns. Ah, e apareceu na capa de uma revista do Expresso, a tomar banho no rio Coura. A minha avó não acho muita piada a isso. Muitos anos depois foi a minha vez. De tomar banho no rio. E, não tendo o previlégio de um jornal como o Expresso, falei para a CMTV (cunha de uma amiga minha). Ainda hoje tenho o video e a página do jornal.

Fui ao Paredes de Coura apenas 2 anos, 2014 e 2015.

Em 2014 estreei-me em festivais. Fui com uns amigos de autocarro da Renex desde o Porto até à terra que dá nome a este festival. O local é realmente um paraíso, uma coisa meio irreal quando se vive tão intensamente a chegada de uma vez só. A partir daí realmente não tem grande ciência: montar tenda, ir ao rio Coura, massa com atum e ir para o recinto.

Para mim uma das imagens mais Paredes de Coura que me ficou na memória foi mesmo um rapaz numa bóia no meio do rio, bigode, magrinho, óculos enormes (hipster like) a ler Kafka. Junto de moços bombados a tentar impressionar as miúdas instagramáticas em fatos de banho old school, com grupos de gente com alguém a tocar guitarra lá no meio, com o som de fundo dos pequenos concertos junto ao rio, som interrompido apenas pelos saltos na enorme prancha para o rio. Ou a corda presa a duas arvores, atravessando o rio e desafiando as pessoas a tentar passar de um lado para o outro. Todos caem passados 3 metros ou menos. Até que lá acaba por aparecer um que sobe para a corda e lá permanece como se em cima da própria cama estivesse. Acho que Paredes de Coura tem um mapa que não deve fugir muito a isto.

Dentro do recinto tem todo um outro ar mais artificial, mas que não deixa de ter a sua magia. Acho que deve ser o recinto onde nos sentimos menos cercados em todos os que já fui. Claro, tem a zona das barracas de hamburgers e assim, mas não sei, tem toda uma atmosfera que parece contagiar tudo o que lá entra. Alguns concertos marcaram-me um pouco. The Legendary Tigerman foi uma revelação para mim, nunca tinha visto e, apesar de já o ter visto umas 4 vezes... o tigerman está no seu habitat quando em Paredes de Coura. The Oh Sees também (palco secundário), um bruto concerto que me deixou tolo por mais. Pena que muitas das bandas no Paredes não se acompanhem com a mesma magia em estúdio. Acho que não gostei nem metade das bandas da mesma forma como gostei ao vivo. Deve ser por isso mesmo que lhe chamam o habitat natural da música. Não tem como correr mal, não tem barreiras, não tem a pressão da multidão. Estão todos alí mas estão todos "na boa", a música é de todos, não só da banda em si. Janelle Monae, The War On Drugs, Public Service Broadcasting (conceito muito interessante, muito bons ao vivo), Cage the Elephant, Ratatat,... muitos concertos que me ficaram nesses anos.

Vou só contar duas histórias simples da minha experiência, de duas realidades distintas sobre a experiência Paredes de Coura:

Banho

Tomar banho em campismo em geral tem sempre as suas questões: há água quente? Individual ou em grupo? Unisexo ou separado? Tapado ou aberto?
Em Paredes têm separados por sexo, em grupo e tapado, mas nunca cheguei a saber se havia água quente. Porque a fila sempre foi um horror, sobretudo para mim que sabia que ia ficar cheio de pó só na viagem de regresso à tenda. Por isso, os meus banho sempre foram de água fria... no rio. Uma pequena queda de água (tão pequena que nem merece esse nome). Champô, um balde e siga para o rio. A melhor parte? Tomava banho na mesma água onde depois se lavava a loiça, onde antes até chegámos a beber água (a venda de água não é das melhores, sejamos honestos) e... onde vi uma ratazana a nadar. Maravilhoso Coura. Não tenho tido grandes gripes desde então, talvez não seja coincidência.

Jesus Cristo e uma guitarra

Estavamos de noite a jogar e a beber entre as nossas tendas. Não me lembro bem porquê mas entretanto apareceram 2 espanhois que se chegaram ao pé de nós, talvez a pedir tabaco ou lume, e acabaram por ficar a jogar e beber connosco. É o espírito normal. E vos garanto, um deles parecia Jesus Cristo na terra. Um pouco hippie, mas Jesus Cristo. Super pacífico, super simpático, daquelas pessoas que quando falavam todos se calavam para ouvir. Um messias da música alternativa. O amigo era um exímio guitarrista, e acho que nunca tinha visto ninguém a tocar e cantar Red Hot Chilli Peppers tão bem ao vivo (Under the Bridge ou Californication, não me lembro bem). Temos fotos com eles, mas por uma questão de proteção de dados (não que eles venham a ver, acho, é mais pela minha proteção na verdade hahaha) não a vou partilhar aqui. Ficou a memória.

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